
Em meio à atual onda de ameaças e ataques violentos a escola, o que fazer? Como proceder ao receber uma mensagem com uma informação desse tipo? É preciso ter medo? Como se proteger?
Diante de tantas perguntas e dúvidas, o Virando Bixo reproduz um trecho de reportagem produzida pelo site Porvir, especializado em educação com orientações que podem ser úteis no atual momento. A reportagem foi escrita pelas jornalistas Ana Luísa D"Maschio e Marina Lopes. Confira a seguir:
Circulam pelas redes sociais, especialmente pelo WhatsApp, uma série de boatos com novas ameaças de ataques às escolas, disseminando medo e insegurança entre a comunidade escolar. Quem cria esse tipo de material quer ganhar notoriedade e causar mais pânico em um momento sensível, de recentes episódios de violência.
Não compartilhar boatos sobre ataques é um passo importante para evitar a generalização desse discurso. Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Projeto Comprova, alerta: "Não dê visibilidade. Jamais compartilhe esse tipo de conteúdo, mesmo como alerta. A popularidade de uma ameaça ou a notoriedade do ameaçador é um prêmio para esses sujeitos."
Em muitos casos, as pessoas compartilham esse conteúdo na intenção de alertar conhecidos e familiares, mas acabam contribuindo com a estratégia de disseminação de boatos e desinformações. "O medo faz a gente ser manipulado", afirma o educador e jornalista Alexandre Le Voci Sayad, diretor da ZeitGeist e co-chairman da UNESCO MIL Alliance.
Ele explica que esses conteúdos se espalham com velocidade pelas redes sociais porque se conectam com medos e geram identificação entre o público. "A propaganda já usava de uma tática que hoje é muito empregada, voluntariamente ou involuntariamente, nas redes sociais para essa disseminação rápida. Ela é conhecida academicamente como viés de confirmação, que é você criar adesão, acreditar e se engajar em uma notícia pelo emocional", analisa Alexandre.
"Em uma situação em que o medo está fora de controle porque as fontes de informação são muitas, há um excesso com fake news e boatos, então o medo ajuda na disseminação. É como se você olhasse para aquele post ou para aquela notícia e, como ela dialoga com um universo que é teu (escola) e uma situação que tua (alunos emocionalmente alterados), aquilo vai criar adesão e engajamento imediato pelo viés de confirmação."
Alexandre também alerta: "O fato de a gente combater a desinformação não significa negligenciar a segurança. São duas coisas que caminham juntas. Precisamos estar atentos, mas não podemos transformar um drama em uma nova tragédia", pontua.
A coordenadora do EducaMídia reforça a postura correta da imprensa que decidiu não expor os criminosos. Outro ponto importante destacado por ela é a necessidade de reconhecer e acolher quem tem dificuldades emocionais ou sociais, para que não precisem buscar aceitação em grupos marginais. "É preciso entender que essa não é uma questão disciplinar, o que coloca a responsabilidade em um comportamento individual, mas sim curricular o que nos força a olhar para o ambiente social e tomar medidas sistêmicas para construir uma cultura de paz", comenta.
Mariana lista alguns pontos a serem observados. "É preciso falar sobre um contínuo que começa com o uso de retórica violenta nos grupos e redes sociais e acaba em violência real; de ambientes online que criam câmaras de eco e reforçam comportamentos doentios; de um consumo saudável de mídia, evitando a exposição a um ciclo de notícias 24 x 7 que gera ansiedade".
De acordo com Mariana Ochs, coordenadora do programa EducaMídia, programa que capacita professores para a educação midiática, ações reativas e pontuais, como aumento de policiamento, são precárias e ineficazes a longo prazo, podendo inclusive escalar o pânico e a desinformação. "Não basta ampliar o policiamento e nem podemos olhar para as questões de violência de forma disciplinar. É preciso incorporar à cultura da escola a valorização de um ambiente acolhedor e saudável dentro e fora da internet."
Para o educador, esse conjunto de ações vai além de um bom comportamento online e tem também um papel restaurador. "Precisamos ficar atentos para garantir o exercício do papel social da escola, que é muito importante. E também o papel de acolhimento para que os alunos se sintam seguros em ir, e os pais se sintam confiantes em deixar os filhos nas escolas. "
E mesmo em situações que a notícia está publicada em um site de boa reputação, Alexandre afirma que convém olhar para o contexto. "Se a gente só multiplica, por mais que a notícia seja confiável, você está alimentando um princípio da falsa proporcionalidade. Você está tornando um fato isolado em um fato geral. Quem vê pode pensar que nesse momento 50% das escolas do Brasil estão sendo vítimas de violência. Não está acontecendo isso."
Retomar os princípios da educação midiática é o caminho que todos podem seguir. "É preciso verificar a fonte da informação. Aquele conteúdo vem de uma fonte diretamente para você ou foi compartilhado por outras pessoas? Se a notícia compartilhada tem uma fonte, é preciso checar se é verdadeira e se existe credibilidade", sugere o educador.







