Entrar numa faculdade sempre foi sinônimo, para muitos jovens, de liberdade. Era a oportunidade de sair de casa para morar em outra cidade, longe dos pais e, deste modo, livres de um monitoramento constante sobre suas vidas. Nos últimos anos, porém, há bastante gente que vem pesando na balança se realmente vale a pena deixar o conforto para trás. E a questão financeira também tem tido papel de protagonista nesta história. Afinal, em boa parte dos casos, fica mais barato estudar em uma instituição privada em sua cidade do que optar por uma pública, portanto gratuita, em outro município.
“Cada vez mais universitários têm optado por continuar morando com os pais. Esse é um fenômeno que observamos há mais de 15 anos, principalmente nos últimos sete”, afirma o economista Marcelo Zambon, coordenador dos cursos de Administração e Economia do ISCA Faculdades, de Limeira. Segundo ele, vários fatores concorrem para que os estudantes deixem de buscar uma faculdade fora de sua cidade.
Um deles é a preocupação dos pais com cidades que não consideram seguras. “São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro são algumas cidades onde hoje, em vários cursos, há redução da demanda de candidatos oriundos do interior para instituições públicas em relação ao passado”, diz Zambon. Não ter que arcar com custos como aluguel e alimentação é outro ponto que pesa a favor de continuar morando com os pais. “Há alunos que, mesmo passando em escolas públicas, optam por particulares que possibilitam que continuem na casa da família”.
Muitas vezes, compensa até mesmo o deslocamento diário a uma cidade próxima do que encarar uma república longe de casa. O receio dos pais sobre com quem os filhos vão dividir o mesmo teto e a opção dos próprios estudantes pelo conforto da casa da família são outros itens que pesam bastante na decisão de não morar fora. “Mais do que nunca, os jovens consideram o conforto que têm morando com os pais e que não terão longe deles”, ressalta Zambon.
O economista faz mais uma ressalva: “As escolas estão mais parecidas em termos de formação. O bom aluno, independentemente da escola, pode ser bem sucedido, enquanto o mau aluno de uma instituição renomada será mal sucedido”. “Há currículo de gente de extremo sucesso, com uma formação sólida, mesmo vindo de uma faculdade desconhecida, enquanto, em contrapartida, temos quem saiu de instituições tradicionais e que muitas vezes nem na área ficou”, reforça.
Com os pais
Estudante de Engenharia de Produção na Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP), Guilherme Mion Ramos, de 18 anos, continua a morar em Limeira com os pais. Diariamente, ele percorre os 30 quilômetros que separam as duas cidades para frequentar as aulas. “Gasto menos viajando todo dia do que gastaria morando fora”, justifica. Além disso, em sua cidade, Guilherme continua a trabalhar como DJ, o que, segundo ele, ficaria mais complicado se estivesse fora. O estudante revela que nunca sonhou em morar numa república. “O conforto de casa é bem melhor e contou na minha decisão”.
Fernanda Ferreira da Silva, de 19 anos, cursa o 2º ano de Publicidade e Propaganda no ISCA Faculdades, na mesma cidade em que mora. No caso dela, a questão financeira também pesou para continuar na casa dos pais. “Como minha irmã já fazia uma faculdade em outra cidade e minha mãe pagava as despesas dela, optei por fazer uma faculdade em Limeira mesmo”, diz.
Outro estudante do ISCA Faculdades, onde faz Jornalismo, Yan Lucas Nunes dos Santos, de 19 anos também viaja diariamente para estudar. Morador de Rio Claro, vizinha a Limeira, ele conta que gostaria de ter morado longe dos pais, “não pela liberdade em si, mas pela independência e experiências adquiridas por andar com as próprias pernas”. “De início, continuar morando com meus pais não foi o plano, mas agora posso dizer que são preocupações a menos e dedicação a mais. E com certeza a questão financeira interferiu nessa situação, porque morando fora eu teria o dobro de gastos”.
