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Estudando na UFSCar sem passar pelo Ensino Médio, aluno é premiado por Stanford

Rogerio Ruivo encontrou erro em "The Art of Computer Programming"

| ViaEPTV -

Fascinado por eletrônica desde a infância, Rogerio Ruivo, de 29 anos, conseguiu um feito: foi premiado pelo professor Donald Knuth, da Universidade de Stanford (EUA), por encontrar um erro no volume I da série de livros “The Art of Computer Programming”. Aluno do curso de Engenharia de Computação da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), ele tem uma história pouco comum. Por detestar a escola, optou por se tornar autodidata e entrou na universidade sem ter feito o Ensino Médio.

O prêmio que recebeu por sua descoberta é simbólico: um cheque de 0 x $ 1,00 do fictício Bank of San Serriffe. Simbólico sim, mas extremamente cobiçado. Afinal, a obra na qual ele encontrou o erro está entre as melhores do século, segundo a revista “American Scientist”. “Até Bill Gates reverencia esse livro”, exalta Ruivo.

A falha foi descoberta pelo estudante em 2014, mesmo ano em que entrou na UFSCar. Vale lembrar que a 1ª edição da obra foi lançada em 1968 e, desde então, ninguém havia notado o erro – “Uma inconsistência na descrição das convenções da linguagem de programação conhecida como ‘MMIXAL’”, de acordo com Ruivo. Ele explica que essa linguagem é adotada para um computador teórico, que não existe fisicamente, mas que foi utilizado apenas como modelo no livro. Um ano depois da descoberta, o estudante recebeu pelos Correios o cheque de Knuth, de quem é fã.

Na entrevista a seguir, Ruivo conta sobre sua trajetória, desde a infância até a universidade.

Divulgação
Rogerio Ruivo, estudante de Engenharia de Computação na UFSCar

Como você descobriu sua paixão pela computação?
Desde criança, sempre tive fascínio por elétrica e eletrônica. Esse gosto me levou a ter contato, ainda na infância, com o radioamadorismo e a faixa do cidadão, que são hobbies muito edificantes. Naquela época, aprendi muito sobre eletromagnetismo, radioeletricidade e propagação atmosférica, além de ética, sociabilização e a ser mais prestativo, que são fundamentais nessa atividade. Fazia contatos com o mundo todo. Isso num tempo em que a internet ainda não tinha a penetração que tem hoje no Brasil. Mais tarde, ganhei de um tio um velho computador dos anos 1980, que era ligado à TV. A primeira coisa que fiz foi desmontá-lo para entender seu funcionamento. Isso demonstra que eu já era um engenheiro nato, e por isso mais tarde minha escolha foi natural.

Como você chegou à universidade?
Pelo Enem. Nunca cursei Ensino Médio, tampouco fiz cursinho. Usei o exame como certificado de conclusão do Ensino Médio. Isso é possível, embora muita gente não saiba. O meu curso teve a nota de corte mais alta da universidade, superando até a de Medicina.

Por que você abandonou a escola no Ensino Fundamental?
Sempre detestei escola. Desde as primeiras lembranças, a escola sempre foi vista por mim como um lugar entediante, cruel, repleto de dogmas e sem criatividade. Entrar pelo portão da escola era como adentrar um calabouço. Na pré-escola, fui agredido por uma professora e era tratado com diferença em relação aos alunos "certinhos". Já tive professoras histéricas, estressadas e com sérios problemas psicológicos. Isso tudo me fez sentir asco do lugar. No Ensino Fundamental, frequentei escolas particulares de São Paulo e Minas Gerais. Todas eram um comércio deslavado. A lógica é a mesma de qualquer mercado, e é evidente que essa lógica não pode existir na educação. Portanto, aos 14 anos, decidi abandonar a escola, porque sou rebelde por natureza. É uma rebeldia não violenta, apenas uma postura de não me curvar, não me resignar diante do que sou supostamente obrigado a fazer sem uma justificativa racional. Sendo assim, abandonei a escola, mas não os estudos, pois sempre gostei de estudar os assuntos que me davam prazer. Para mim, não se pode aprender com desprazer.

Mas você era bom aluno?
De modo geral, não. Sempre fui educado e respeitador no convívio com os professores e colegas, mas nunca tive notas altas. Notas não significam nada para mim. Provas não têm serventia para provar se o aluno assimilou o conteúdo da matéria e muito menos se esse conteúdo será aproveitado.

Como seus pais receberam a sua decisão de abandonar a escola?
Ficaram chocados e, inicialmente, tentaram me convencer a voltar. Mas, passado algum tempo, comprovaram que eu apenas havia adotado um caminho alternativo para minha educação.

Como você estudou para conseguir passar no Enem?
Estudando em casa todas as matérias do Ensino Médio. Só em casa pude mergulhar com prazer nos livros. Agora, estava livre daquele ambiente detestável e pude aprender com prazer. Ao decidir entrar numa universidade, separei uns livros que pertenceram ao meu pai e ao meu avô, ganhei outros de amigos e comprei os demais em sebos e lojas. A riqueza em se estudar dessa forma está em poder ter contato com várias obras sobre um mesmo assunto, e não apenas com uma apostila pasteurizada. Como dizia o cientista da computação Alan Kay, a regra na escola é ter um só ponto de vista: o do professor ou o do livro-texto. Não é do agrado dela ter diferentes pontos de vista. Desse modo, eu tinha uma pequena pilha de livros para cada matéria. A sorte é que meu falecido avô deixou uma pequena biblioteca de herança, da qual tirei muito proveito. Não posso deixar de mencionar a enorme importância que teve a internet, fonte inesgotável de conhecimento e verdadeiro sonho de todo autodidata. Nela, pude ter acesso às melhores bibliotecas.

Sem ter professores, como fazia para sanar suas dúvidas?
A palavra autodidata provém do grego autodídaktos, que significa “aquele que se instrui por meios próprios” ou que “é mestre de si mesmo”. A experiência de ser autodidata é única, pois é a forma mais pura de estudar. Seu único guia é a curiosidade. Quando a dúvida nasce na mente, somos confrontados com o silêncio. Não há um professor na sua frente. Não há quem possa lhe ajudar. Somos obrigados a pensar. Aí nasce o aprendizado. Contudo, nem sempre é assim, pois os mestres estão nos livros, na internet. Há muito conteúdo para se pesquisar. Creio que estudar assim tenha mais valor do que fazer perguntas açodadas para um professor ao se deparar com a primeira dúvida que vem à cabeça. Quando todos esses recursos são esgotados, só nos resta entrar em contato com o autor do livro, o que já fiz muitas vezes. Foi assim que ganhei a recompensa do professor Donald Knuth.

Como tem sido sua experiência na universidade?
Positiva. A universidade tem características interessantes, apesar dos problemas. O mais valioso é ter contato com pessoas muito mais capacitadas e experientes que você. A modularidade do ensino também me agrada, e deveria ser aplicada também nos níveis fundamental e médio. As oportunidades também existem em profusão e é preciso saber aproveitá-las com sabedoria. Na computação, por exemplo, é grande a sedução de empresas que desejam contratar alunos antes mesmo que se formem. Isso é bom para alguns, mas é necessário que a universidade pública não seja um supermercado de empresas. O lado ruim é que o tempo poderia ser mais bem aproveitado. Na grade, há disciplinas sem nexo, obsoletas e desnecessárias. É inadmissível que no século 21 ainda tenhamos aulas da mesma forma que no século 19. Os recursos que a tecnologia oferece não são usados, e até mesmo proibidos, por professores arcaicos. É lamentável. Outro ponto problemático, é que, na universidade, há professores que são brilhantes em suas respectivas áreas, verdadeiros luminares, mas que não têm talento algum para dar aula. Porém, infelizmente, por imposição de sua profissão, são forçados a dar aulas. A experiência me mostrou que a didática é um talento raro.

O que você diria para o jovem que deseja se tornar autodidata?
Quero dizer que esse caminho não foi fácil. Sofri muito preconceito e desconfiança por ser autodidata. As pessoas não acreditam em você sem um diploma, ainda que você demonstre absoluta competência em sua área de atuação. Espero que as crianças e jovens que estejam lendo essa entrevista possam descobrir que o conhecimento depende menos de outras pessoas do que de nós mesmos, e que podemos seguir um caminho alternativo, desde que você se esforce muito para ser o melhor no que você faz. E vai ser preciso trabalhar muito mais duro do que aqueles que optam pela via convencional. A pior das escravidões é a escravidão mental, por isso, o preço de sua libertação valerá a pena. 


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