As provas de linguagens e ciências humanas do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 supreenderam positivamente, pois, ao contrário do que se esperava, abordaram temas atuais e de relevância social. Apesar dos temas, a prova exigiu pouca capacidade crítica e de análise dos candidatos, enfocando prioritariamente conteúdos curriculares. Essa é a avaliação de professores da Oficina do Estudante.
Confira alguns comentários a seguir:
Marcelo Pavani (diretor Pedagógico do Curso Pré-Vestibular):
"Mesmo com os temas abordados, nenhuma questão suscita polêmica, esperando do candidato uma posição ideológica específica para a sua compreensão ou resolução. Nesse sentido, o INEP produziu uma prova neutra, sem qualquer postura ideológica explícita.
A prova foi surpreendente, na medida que as questões, por toda a prova, citam autores do campo progressista, como Foucault e Hannah Arendt, além de discutirem temáticas como violência contra a mulher e a questão dos refugiados. Na prova de redação, a dificuldade vir da proposição de um tema amplo, mas com um recorte bastante específico, o que poderia confundir os candidatos".
Professor Antunes Rafael dos Santos (Língua Portuguesa e diretor do Colégio Oficina do Estudante):
"Considerando os temas e os autores abordados na prova de linguagens, há duas considerações a fazer. A gente tinha a expectativa de que não seriam abordados temas ligados às minorias, tendo em vista toda a polêmica noano passado [o então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, critico uma questão que citava um dialeto usado por gays e travestis].
Contrariando a expectativa, a prova abordou questões sobre refugiados, bullying, entre outros temas atuais. As letras de música usadas como textos motivadores também retrataram falas de minorias e, coerentemente, a redação trouxe como tema a falta de acesso de uma parcela da população às salas de cinema.
A prova incluiu sociólogos e filósofos que fazem uma reflexão política interessante, que retratam a fala e a voz das minorias.
É uma prova bastante coerente e reforça o cunho social que o Enem costuma ter na prova de linguagens, com temas atuais e pertinentes para a sociedade. E, certamente, o candidato teria repertório para responder às questões
Acredito que foi uma surpresa positiva, uma vez que a gente tinha a expectativa de uma prova mais focada nos conteúdos curriculares para se afastar de qualquer polêmica ou viés político e ideológico".
Professor Victor Rysovas (História):
"Pensando os temas da prova, percebe-se que ela procura ser bastante conciliadora. Traz um olhar para as questões sociais, convidando a sociedade a olhar para os idosos, as mulheres, as crianças e os jovens. É uma prova que induz a uma reflexão muito interessante.
Colocar Hanna Arendt. uma autora de esquerda, numa questão para abordar o surgimento de governos totalitários, é muito oportuno para este momento do Brasil, assim como a música do Cazuza.
Todos esses temas compõem uma mensagem muito bonita e, de alguma maneira, bastante inesperada, porque a prova transmite uma visão diferente da expectativa que tínhamos de uma prova mais conteudista".