*Por Patrícia Capovilla
A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) aprovou na tarde desta terça-feira (1º), por unanimidade, a criação de um sistema de cotas para pessoas que se autodeclaram trans, travestis ou não-binárias. A medida, que visa aumentar a inclusão e a diversidade na universidade, será aplicada às vagas do vestibular Enem-Unicamp. O número de vagas vai variar de acordo com o curso, dentro de um limite de 5%.
A nova política de cotas estabelece que os cursos de graduação da Unicamp, que atualmente somam 57, terão um número específico de vagas reservadas para essa população. Para os cursos que oferecem até 30 vagas regulares, será garantida a reserva de pelo menos uma vaga para candidatos trans. Já nos cursos com mais de 30 vagas, serão disponibilizadas até duas vagas, que podem ser regulares ou adicionais. Importante ressaltar que, quando as vagas não forem adicionais, elas serão subtraídas do total de vagas do vestibular de ampla concorrência.
Além disso, metade das vagas reservadas para pessoas trans será distribuída de acordo com os critérios das cotas para pretos, pardos e indígenas. Isso significa que, nos cursos que oferecerem duas vagas para pessoas trans, uma será para pretos, pardos e indígenas.
PROCESSO DE INSCRIÇÃO E COMPROVAÇÃO
Os candidatos interessados em concorrer às vagas reservadas nesta nova política de cotas deverão se inscrever no vestibular Enem-Unicamp e realizar uma autodeclaração, conforme as diretrizes estabelecidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos e pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Além disso, será exigido um relato de vida, que será analisado por uma comissão de verificação. Esse modelo já é utilizado em outras instituições de ensino superior e visa garantir a autenticidade das declarações.
A proposta de cotas foi resultado de um trabalho conjunto entre movimentos sociais, como o Ateliê TransMoras e o NCT (Núcleo de Consciência Trans), além de discentes da Unicamp e da Reitoria, e foi discutida durante a greve estudantil de 2023. O professor José Alves Neto, coordenador da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares), destacou que a aprovação das cotas representa um momento histórico para a universidade e um passo importante na luta contra a exclusão da população trans no ensino superior.
Dados da Comvest mostram que, no Vestibular 2025, 279 candidatos se inscreveram utilizando nome social, dos quais 40 foram convocados. Os cursos mais procurados foram Artes Visuais, Ciências Biológicas e Medicina, evidenciando o interesse da população trans em áreas diversas do conhecimento.
Após cinco anos da implementação das cotas, a Unicamp realizará uma análise dos resultados da política, buscando avaliar seu impacto e eficácia na promoção da inclusão. A medida é vista como parte de um processo de reparação e reconhecimento das dificuldades enfrentadas pela população trans no Brasil, que historicamente tem sido alvo de discriminação e violência.
Para os estudantes que pretendem prestar vestibular neste ano, é fundamental estar atento à publicação do edital e às novas diretrizes, que vão informar detalhadamente qual documentação será necessária e todos os prazos.
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