Em uma década, de 2010 a 2019, o número de estudantes com deficiência no ensino superior brasileiro aumentou 144,83%. Entretanto, eles ainda correspondem a menos 1% do total de matriculados na graduação. É o que mostra levantamento feito pela plataforma Quero Bolsa, com base em dados do Censo da Educação Superior 2019, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Esses dados revelam que ainda são grandes os desafios para os jovens com deficiência que querem ingressar numa faculdade, apesar dos avanços conquistado nas últimas décadas e celebrados no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, 3 de dezembro. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Para Raphael Preto, recém-formado em jornalismo pela Fiam Centro Universitário, em São Paulo, muitos estudantes com deficiência acabam abandonando a escola ao longo da educação básica, por isso, poucos chegam ao ensino superior. Ele tem deficiência física.
"Se você analisar o processo de evasão escolar, fazendo o recorte das pessoas com deficiência, verá que à medida que aumenta o nível de ensino, aumenta a evasão desses estudantes", comenta o jornalista. "É preciso investigar as causas de evasão das pessoas com deficiência no ensino médio para responder por que elas não chegam à faculdade".
Os números
Em 2010, eram 19.818 alunos com deficiência no ensino superior. Em 2019, esse número subiu e chegou a 48.520. Entretanto, eles ainda representam uma parcela pequena do total, saindo de 0,31% no início da década e chegando a 0,56% no último censo. No Brasil, há cerca de 8,45 milhões de alunos no ensino superior, de acordo com o Inep.
O grupo é mais representativo no setor público do que no privado. No primeiro, são 0,89%, ou seja, 18.227. Já no segundo, são 0,46%, ou seja, 30.211.
Raphael Preto ressalta que uma pessoa com deficiência tem as mesmas pessoas de uma pessoa sem deficiência. "Quer trabalhar, produzir e viver de forma autônoma". Ele observa, porém, que as condições socioeconômicas podem ser um impedimento para muitos realizarem seus projetos e planos de vida. "Eu tive a oportunidade de escolher uma instituição de ensino particular e bem localizada. Creio que isso já é um privilégio. Mas sabemos que existe uma associação entre deficiência e pobreza estatisticamente".
Cursos mais e menos inclusivos
Analisando os cursos com pelo menos 5 mil matriculados, o curso de Formação de Professor em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) é o que aparece em primeiro colocado entre os mais inclusivos, com 12,89%. Em último, aparece segurança pública com 0,16%.
Confira a lista dos 5 mais inclusivos:
Formação de Professor em Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) - 12,89%;
Jogos Digitais - 1,29%;
Formação de Professor em Computação - 1,23%;
Biblioteconomia - 1,22%;
Administração pública - 1,08%;
Confira a lista dos 5 menos inclusivos:
Engenharia mecatrônica - 0,32%;
Negócios imobiliários - 0,31%;
Produção industrial - 0,30%;
Segurança privada - 0,24%;
Segurança pública - 0,16%.