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Como é ter síndrome de Down e fazer um curso superior?

No Dia Internacional da síndrome de Down, contamos as histórias de Bianca e Jessica. Para elas, a deficiência não foi empecilho para conquistar o diploma universitário

| Da Redação -

  Jessica Mendes Figueiredo tem 27 anos e é formada em fotografia. Bianca Dias Tagliacozzo tem 22 e graduou-se em educação física em 2018. Além de curso superior completo, Jessica e Bianca possuem mais uma coisa em comum: as duas têm síndrome de Down.  

Hoje, 21/3, comemora-se o Dia Internacional da Síndrome de Down. A escolha da data não é aleatória e sim uma referência ao fato de que as pessoas com Down possuem três cromossomos 21, ao invés de dois. O objetivo é sensibilizar a sociedade para a importância da inclusão e combater o preconceito contra a deficiência, em especial a síndrome de Down.  

A síndrome de Down não é uma doença, como muitos ainda pensam. É uma condição genética que se faz presente em certas pessoas, associada a vários tipos de características  - algumas físicas, como o formato dos olhos e a hipotonia muscular - e à deficiência intelectual.  Isso não significa, porém, que as pessoas com síndrome de Down não tenham capacidade de aprender, desenvolver-se e ter uma vida plena e autônoma. Jessica e Bianca são exemplos disso.  

Uma minoria que cresce 

As duas garotas ainda são minoria entre as pessoas com deficiência, pois muitas não conseguem avançar nos estudos, passar a barreira do vestibular e chegar a uma universidade.  

De acordo com do Censo Escolar o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), em 2018, havia cerca de 827 mil crianças e jovens com deficiência matriculados na educação básica (educação infantil, ensino fundamental e no ensino médio) número que vem crescendo ano a ano. Só no ensino médio, em 2018, eram 94,2 mil, o dobro das matrículas em 2013, 48,5 mil.  

Apesar do aumento, poucos chegam à faculdade, especialmente entre as pessoas com síndrome de Down: em 2018, eram 74, segundo levantamento do Movimento Down, citado em reportagem do site Desafios da Educação. O número representa um aumento de 48% em relação a 2017.  

Assim, os dados revelam que as histórias de Bianca e Jessica ainda são exceção. E fruto de uma vida marcada pela valorização da educação e do investimento no desenvolvimento da autonomia, o que envolve família, escola, terapeutas e diversos tipos de apoio.  

Jessica e Bianca contam que sempre gostaram de estudar. As duas frequentaram escolas comuns  e fizeram faculdade porque escolheram esse caminho.  

Bianca mora em Indaiatuba, no interior de São Paulo, onde fez a faculdade de educação física - seu desejo desde os 15 anos, quando começou a fazer musculação. "Eu me apaixonei pela musculação e queria trabalhar como instrutora", conta a jovem.  Quando estava no ensino médio, fez um teste vocacional que indicou o curso de educação física como o mais indicado para ela. "Fiz o vestibular normal, como todos os outros candidatos", explica Bianca. E acabou sendo aprovada. 

A trajetória de Jessica foi parecida: ela gostava de fotografia e um teste vocacional confirmou que este seria um bom caminho profissional para ela. Então, prestou vestibular para um curso tecnológico de fotografia numa instituição de ensino em Brasília, onde mora. E foi aprovada. 

A síndrome de Down não foi empecilho para Jessica Mendes Figueiredo formar-se em fotografia

No entanto, os desafios não terminaram no vestibular. Pelo contrário. Após serem aprovadas, as estudantes tiveram de se adaptar à rotina e à complexidade de um curso de nível superior. "Tinha dificuldade de entender algumas matérias, principalmente física, química e inglês", conta Jessica.   

Para Bianca, o maior desafio foi o primeiro ano de curso. "Foi uma fase de adaptação. Como eu não conseguia anotar tudo, eu gravava a aula e depois estudava em casa", detalha a jovem.  

Bianca Dias Tagliacozzo, que formou-se em educação física no ano passado

Ambas tiveram apoio de tutores jovens formados nos mesmos cursos que elas, que as ajudavam a organizar a agenda e os estudos. Mas na hora de fazer as tarefas e os trabalhos, elas assumiam a responsabilidade por conta própria.

Bianca escreveu uma monografia sobre a importância da musculação para as pessoas com síndrome de Down, como trabalho de conclusão de curso.  "Escolhi este tema porque queria mostrar o quanto a musculação pode ajudar essas pessoas, porque ajuda a diminuir a hipotonia", detalha. Com o diploma universitário em mãos, ela pretende trabalhar como instrutora de musculação.  

Jessica, por sua vez, é fotógrafa profissional. Depois de formada, ela foi voluntária e desde 2014 é contratada da Secretaria da Pessoa com Deficiência do Distrito Federal. "Faz cinco anos que estou lá. Trabalho principalmente com fotografia de eventos". Mas ela revela que também gosta de fotojornalismo e de natureza.  O trabalho de Jessica pode ser conferido em sua página no Facebook.

As lições do preconceito 

Para chegar onde estão, Jessica e Bianca tiveram de superar uma barreira tão grande (ou talvez maior) do que a complexidade do conteúdo das disciplinas de um curso superior: o preconceito.  

Na faculdade, ambas passaram por situações que as marcaram. Bianca conta que teve de fazer sozinha algumas atividades e trabalhos, pois não era convidada para participar dos grupos. O mesmo aconteceu com Jessica, que chegou a ser excluída do grupo de alunos que ia fazer uma caminhada fotográfica, junto com outros estudantes com deficiência de sua turma.  

Nos dois casos, os episódios foram superados com conversas e negociações com as instituições de ensino, trazendo como saldo positivo para elas, individualmente, crescimento pessoal, e, para o grupo, debates  e atividades de conscientização sobre a deficiência e o preconceito.  

Por isso, embora esses episódios tenham gerado frustração e tristeza, a vivência do preconceito foi fortalecedora, estimulando as as garotas a seguirem seus sonhos e convicções. Jessica, por exemplo, tornou-se uma das idealizadoras do grupo de Autogestores/ Autodefensores da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down. O objetivo do grupo é fazer como que as pessoas com síndrome de Down conheçam seus direitos e tornem-se capazes de defendê-los.   

E hoje, quando se comemora o Dia Internacional da Síndrome de Down, Jessica será homenageada no Senado Federal por sua atuação em prol das pessoas com deficiência. Bianca, por sua vez, está em Santa Catarina, onde participa como palestrante de um seminário da Assembleia Legislativa e apresenta seu trabalho de conclusão de curso na faculdade. 



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